sábado, 29 de dezembro de 2012

Etelvina Maria dos Santos (Etelvina Fiúza ou Vó Etelvina)





Etelvina Maria dos Santos na década de 1920, com suas filhas,
no quintal de sua casa. Da esquerda para a direita:
Maria do Cruz, Clara, Etelvina,
Francisca (Chiquinha), Virgínia e Angélica.
Foto do acervo de Letícia Machado.


       Uma das personalidades mais marcantes na história de minha família é a de Etelvina Maria dos Santos, mais conhecida como Vó Etelvina. Ela pertenceu à categoria das mulheres fortes, tão comuns nos confins das Minas Gerais do século XIX, em particular na região do Campo Grande, o território à esquerda do alto rio São Francisco, desbravado na segunda metade do século anterior. Sua figura não chegou a se ombrear a uma Dona Joaquina do Pompéu, muito menos a uma Dona Beja e, mais distante ainda, a uma Chica da Silva, mas, em se tratando da microrregião do Alto São Francisco, um território bem mais modesto se comparado ao daqueles onde viveram estas outras grandes mulheres, nas suas devidas proporções, foi ela uma dessas figuras femininas corajosas, esteios de famílias, de pulsos firmes, que sabiam comandar seus negócios, da mesma forma que sabiam distribuir atenção e carinho a todos, sejam familiares, amigos ou conhecidos.

Cresci ouvindo meu pai falar em Vó Etelvina e este nome não mais saiu de minhas fantasias infantis. Ela era uma dessas espécies de matriarcas, que a todos ajudava e a todos queria ao seu redor. Criou tanto seus filhos, como vários de seus netos e até alguns bisnetos, ora em sua Fazenda dos Cocais, ora em sua casa em Dores do Indaiá. Esta era situada à Praça São Sebastião, esquina de Rua Rio de Janeiro, defronte à antiga Igreja de São Sebastião, núcleo onde nasceu e cresceu Dores do Indaiá. Lembro-me, por volta de meus cinco para seis anos, passar em frente à casa, então ainda existente, e ouvir meus tios e minha avó falar sobre a vivenda de tão gratas memórias a todos. Etelvina nos deixou em 1942 e, nesta ocasião, 1949/50, a casa já não pertencia mais à família.

Etelvina tornou-se uma mulher lendária para nossos familiares, principalmente para alguns, que, como eu, não a conheceram. Apesar de pertencer à grande família Fiúza de Dores do Indaiá e da região do Alto São Francisco, seu verdadeiro nome gera controvérsias. Encontramos o nome Etelvina Maria dos Santos em algumas certidões cartoriais. O nome Etelvina Angélica dos Santos é encontrado na árvore genealógica elaborada pelo Sr. Jean-Pierre Longueteau. O Santos veio de sua avó paterna, Maria Delfina dos Santos, esta nascida em Dores, em 1810. Encontramos também referências ao nome Etelvina Fiúza em livros sobre a História de Dores do Indaiá, do prof. Waldemar de Almeida Barbosa.

A origem da família Fiúza tem descrições genealógicas conflitantes. Pesquisando duas versões diferentes dessa genealogia, uma realizada por Jean-Pierre Longueteau, francês, casado com uma dorense, Maria Elizabeth de Castro Longueteau, descendente do Capitão Amaro da Costa Guimarães, um dos fundadores do Arraial de Nossa Senhora das Dores (o primitivo nome do lugar), em 1798, e comparando-a com a genealogia publicada pelo prof. Rubens Fiúza em seu livro Do São Francisco ao Indaiá – História e Estórias de Dores do Indaiá (2003), vêem-se claramente profundas divergências. Longueteau, um estudioso de genealogia, fez pesquisas em cartórios de Dores do Indaiá e de Pitangui, portanto, suas informações têm mais peso e valor histórico. O prof. Rubens Fiúza se baseou em relatos orais e, depois, escritos, mas sem comprovação cartorial, feitos por um único descendente da família Fiúza, natural de Recife, Pernambuco, e, posteriormente, residente no Rio de Janeiro.

Vamos, inicialmente, fazer uma breve exposição dos dados encontrados por Longueteau, que teve o cuidado de construir uma árvore genealógica dos Fiúza por ele pesquisados e repassada para meu primo Paulo Ribeiro de Andrade, neto de Etelvina, filho de João Ribeiro Coelho, já falecido e filho caçula da matriarca. Paulo é residente em Dores do Indaiá, onde é empresário no ramo de posto de gasolina e, como eu, um amante da história. Teve a amável gentileza de, a meu pedido, enviar-me esta árvore. Vamos ao que ela nos diz.

Pitangui - A Igreja Matriz do Pilar, construída entre 1914 e 1921, após incêndio
da antiga igreja do século XVIII. Deste seu modelo foi construída a Matriz de N.S. 
das Dores, em Dores do Indaiá, também no período 1914-1921. Ambas construídas 
com plantas do mesmo engenheiro-arquiteto, Dr. Francisco Palmério, em estilo 
neogótico eclético. A de Pitangui foi construída pelo engenheiro Benedito José dos Santos 
e pelo chefe de obras Sétimo Caravita. Este, não podendo participar da construção 
da igreja de Dores, indicou seus auxiliares Fortunato Giordi e Ernesto Gatti, de origem 
italiana. De Pitangui partiram os principais desbravadores
da região do Alto São Francisco, incluindo Dores do Indaiá.

   
Etelvina Maria dos Santos nasceu em Dores do Indaiá, em 1858, em data incerta (foi batizada em 25 de dezembro desse mesmo ano). Seus pais eram Herculano Pinto Fiúza (1831-1887), o velho, mais conhecido como Dolor, e Maria Vieira Fiúza (1835-?), ambos nascidos em Dores. O casamento de seus pais se deu em 1855, em Dores do Indaiá. Portanto, Etelvina nasceu três anos após a união de seus pais. Era filha única do casal. Seus avós paternos eram Ricardo Pinto Fiúza, o velho (1808-1861), e Maria Delfina dos Santos (1810-?), ambos também nascidos em Dores do Indaiá. Consta que Maria Delfina teria sido fiadeira e não temos notícias de seus ancestrais.
Ricardo Pinto Fiúza era filho de Domingos Pinto Coelho Sobrinho, lavrador, nascido em 1775, em Pitangui, e falecido em Dores do Indaiá em nove de outubro de 1835. Em 1803, Domingos casou-se com Ana Angélica (Epifânia) Fiúza, em Pitangui. Ela faleceu em Dores do Indaiá em dois de junho de 1845, constando também ter sido fiadeira. Os pais de Ana Angélica foram: José Borges de Almeida, nascido em data desconhecida, natural de São Salvador de Roge, região do Porto, Portugal, que emigrou para o Brasil, tendo se estabelecido em São José del Rei, atual Tiradentes, Minas Gerais, e Maria José Fiúza. Em 1778, José casou-se em São José del Rei com Maria José Fiúza, nascida em 1762, em Conceição do Mato Dentro, Minas Gerais. Os pais de José Borges de Almeida também eram de São Salvador de Roge. Seu pai foi Francisco Jorge, nascido em 1725, e sua mãe foi Mariana Borges de Almeida. Ambos se casaram nesta cidade, em 1750. Os pais de Maria José também eram portugueses. O pai, Geraldo de Azevedo Fiúza, era natural de Paços de Brandão, Portugal, e emigrou para o Brasil, onde se casou com Rosa Gomes de Brito, em Itambé do Mato Dentro, em data desconhecida. Os pais de Geraldo de Azevedo Fiúza foram Geraldo Fiúza Vaz e Bernarda de Azevedo, ambos naturais de Paços de Brandão, Portugal.


Igreja de Passos do Brandão - Santa Maria da Feira -
Aveiro - Região do Porto - Portugal



Voltando a Domingos Pinto Coelho Sobrinho, bisavô de Etelvina, seus pais eram Antônio Pinto Coelho, nascido em 21 de agosto de 1735, em Vila Maior – Santa Maria de Feira, Portugal, falecido no Arraial da Saúde (capitania de Minas Gerais), em 30 de março de 1807, e Maria Joaquina Pinto Coelho, nascida em local indeterminado, em 1740, na capitania de Minas Gerais. Casaram-se em Pitangui, em 1765. Dela não temos notícia dos ancestrais. O pai de Antônio Pinto Coelho, portanto, tetravô de Etelvina, foi Manuel Coelho, nascido em 1680, em Vila Maior – Santa Maria de Feira, Portugal, onde se casou, em 19 de fevereiro de 1719, na mesma localidade, com Joana Coelho, nascida em 14 de abril de 1692, na Freguesia da Vila Maior, bispado do Porto, Portugal. O pai de Manuel Coelho, pentavô de Etelvina, também tinha o mesmo nome, Manuel Coelho, e nasceu em 1630, em Vila Maior – Santa Maria de Feira, Portugal e faleceu em Fiães, Santa Maria de Feira. Sua mãe foi Maria da Morza, nascida em 1635, em Fiães, Santa Maria de Feira, Portugal, e falecida em data incerta. O casamento de Manuel Coelho e Maria da Morza se deu em 1660, em Fiães, Santa Maria de Feira, Portugal.



Castelo de Santa Maria de Feira, Aveiro. Região do Porto. Portugal. 


Com este acurado estudo, Longueteau conseguiu chegar a seis gerações de antepassados de Etelvina Maria dos Santos. Vê-se que seus ancestrais são originários do norte de Portugal, mais exatamente da região do Porto. Sabe-se que mais de 80% da emigração portuguesa para o Brasil era constituída de pessoas do norte do País, que vinham em busca de melhores oportunidades de trabalho e melhores condições de vida. Não há relato de uma possível ascendência judaica nessa genealogia de Longueteau, mas é sabido que os judeus eram bastante encontrados na região norte de Portugal. Era uma região mais progressista, de comércio possante, com a indústria dando seus primeiros passos rumo ao desenvolvimentismo, daí a preferência dos hebreus pela região. Hoje, com os estudos de DNA em populações, tem sido descoberta uma ampla porcentagem de ascendência hebraica entre o povo lusitano. Nas regiões do norte, encontramos algo em torno de 20% da população que revela ascendência hebraica. Ao sul, em função de uma concentração maior de judeus em fuga da Inquisição, por demais severa no norte, alguns estudos têm encontrado cifras que chegam aos 35% de sangue hebraico entre o povo do Algarve.

Como veremos a seguir, passado o período dos Descobrimentos, Portugal entrou em franco declínio econômico e financeiro, em função de políticas econômicas desastrosas e uma metodologia de colonização da América lusitana totalmente inadequada para os tempos em que a Europa vivia. Enquanto a América do Norte era colonizada por ingleses e franceses num sistema de distribuição de pequenas glebas de terras para cada família, que assim tinha melhores condições de explorar as riquezas de seu solo, a América lusitana continuou adotando o velho método de distribuição de capitanias hereditárias e sesmarias, que fora bem sucedido na colonização das ilhas do Atlântico e alguns territórios no Oriente. Entretanto, no Brasil, essas terras eram, na maioria das vezes, improdutivas, tanto pela sua imensidão, o que tornava o trabalho quase sobre-humano para que tais terras pudessem ser devidamente exploradas quanto, muitas vezes, pela ausência física de seus donatários e sesmeiros, que não se dignavam a enfrentar uma terra desconhecida e selvagem. Isso para não falar na ainda mais desastrosa política de expulsão do povo judeu do território português, quando se sabe que ele era a fonte do dinheiro para o financiamento dos empreendimentos que levariam ao progresso e ao desenvolvimento da nação.

A outra genealogia foi descrita pelo prof. Rubens Fiúza, primo em terceiro grau de Etelvina. Conhecido escritor e cronista dorense, autor de alguns livros sobre a formação histórica de Dores do Indaiá e região do Alto São Francisco, o relato feito por ele das origens da família Fiúza chega à Antiguidade. De acordo com seu relato no já citado livro Do São Francisco ao Indaiá – História e Estórias de Dores do Indaiá (2003), em suas andanças pelo País, fazendo palestras, conheceu em Recife, Pernambuco, um médico e industrial pernambucano, aficionado por genealogia, que lhe passou todas as informações que ele havia descoberto sobre a família Fiúza. Seu nome era Antônio Fiúza de Castro e, tendo atingido a maturidade, dispondo de um bom cabedal, deixou a medicina e a atividade de industrial no ramo de pré-moldados de cimento, para se dedicar exclusivamente a viajar pelo mundo e a descobrir as origens de seus ancestrais. Posteriormente, veio a residir no Rio de Janeiro, onde ambos mantiveram mais contatos sobre este tema.



Galiléia. Vista panorâmica impressionante do Vale de
Jezreel, com o Monte Gerezim ao sul e o majestoso Monte Tabor ao leste.
Também se pode ver Meguido, a partir de uma vista espetacular
do Monte Carmelo. O vale do Meguido, passagem ancestral de
tropas egípcias do Faraó para atacar os Hititas, os Hicsos, os Assírios,
os Babilônios e os Cananeus, foi palco de batalhas fundamentais
para a supremacia egípcia na região. Por este vale também
combateu o exército hebreu de Davi contra os filisteus e
outros povos. Deu origem à lenda do Armagedon
(a batalha definitiva entre o bem e o mal,
no fim dos tempos - Apocalipse).
        

Segundo o Dr. Antônio Fiúza de Castro, os Fiúza têm origem em uma aldeia da Galiléia, em território hoje situado no sul da Síria, no primeiro século a.C., onde havia um velho clã de negociantes de camelos, cujo sobrenome era Lahabim ou Lahabin. Um membro deste clã teria se mudado para Jerusalém e convertera-se ao judaísmo, formando uma numerosa família de comerciantes. Poderia se dizer que já eram ricos nesse período. Como é sobejamente conhecido pela História, esta foi uma época excepcionalmente perturbada na vida do povo judeu. Diversas rebeliões surgiam periodicamente contra os invasores romanos, então os senhores do mundo antigo. Cansados do desgaste contínuo no combate aos rebeldes judeus, o que acarretava grandes prejuízos para o Império, o imperador Vespasiano, no ano 69 de nossa era, invadiu Jerusalém promovendo grandes destruições e massacres. No ano seguinte, seu filho Tito, então imperador em decorrência da morte do pai, viu-se às voltas com novas rebeliões sangrentas. Decidido a dar cabo de vez com aquela interminável insubordinação, Tito novamente invadiu Jerusalém e destruiu o que restava intacto. Queimou a cidade, em particular o Templo de Salomão, quando os soldados romanos chegaram a atirar grandes blocos de pedras do alto do muro do templo, até vários metros abaixo, para que “não sobrasse pedra sobre pedra”. Os judeus que não conseguiram fugir da cidade foram passados ao fio da espada. Assim, no ano 70 da era cristã, os judeus remanescentes se espalharam pelos quatro cantos do mundo, dando origem à Diáspora, fenômeno que traz importantes consequências para a Humanidade até os dias atuais.


Maravilhosa vista do Vale de Jezreel, visto do norte. Este vale setentrional,
onde, muitas vezes, esteve em jogo o destino
de toda a região, separa a Baixa Galiléia da Samaria.
Palco de incontáveis batalhas na Antiguidade.
Foto: Enciclopédia Mirador Internacional, 1985.
  


Monte Tabor, ao lado esquerdo (sentido oeste-leste) do Vale de Jezreel.
Local da transubstanciação de Jesus de Nazaré.
Foto: Enciclopédia Mirador Internacional, 1985.



Meggido (Meguido). Cidade-estado, construída no II milênio a.C.
Fortaleza que dominava todo o vale de Jezreel, fundamental
na defesa militar da Galiléia. Do alto de sua colina poder-se-ia
visualizar todo o Armagedon bíblico.
Foto: Enciclopédia Mirador Internacional, 1985.


Monte Gerezim, à esquerda, e Monte Ebal, à direita. Vista do leste.
Fronteira sul da Galiléia com o norte da Samaria. Importantes pontos de
adoração a Javé pelos hebreus. Em suas encostas vemos a cidade de Siquém,
também de grande importância bíblica. No vale entre as duas colinas se prolonga
o Vale do Siquém, outra importante referência bíblica.


Entre os emigrados estariam membros da família Lahabim que se teriam se estabelecido na ilha grega de Naxos. Ali se tornariam grandes armadores, especializados na construção de pequenos navios e na comercialização e exportação de vinhos. Algum tempo depois (não foi precisada a data), alguns dos filhos do velho Lahabim teriam emigrado para a Itália, quando o Império Romano já estava no fim. Ali, teriam passado a representar os negócios do pai no comércio de vinho e no serviço de navegação. Teriam ficado tão ricos, que, mais tarde, ampliaram seus negócios para o empréstimo de dinheiro, isto é, teriam se tornado grandes usurários, numa época em que não existiam os bancos. Esta atividade sempre foi uma das especialidades do povo hebreu pelo mundo afora. Também trabalhavam com o sistema de casas de penhor. Teriam ficado muito conhecidos em todo o território italiano, de norte a sul. Supostamente, emprestavam dinheiro, ou faziam penhores, na base da confiança recíproca entre o cliente e o comerciante. A palavra latina para confiança é fidúcia. Com o correr dos séculos houve a corruptela do nome latino de fidúcia para fiuzza, significando a mesma coisa, isto é, confiança. Surgiram as Case di Fiúzza, o mesmo que Casas de Confiança. Nova corruptela do nome e ficou Case di Fiúza. Assim, os Lahabim, ao se tornarem extremamente populares, numa época, como afirmamos, em que não existiam os bancos, tal como hoje os conhecemos, passariam a ser conhecidos como os Fiúza, por sua própria iniciativa, e numa forma de se proteger da perseguição antissemita, utilizando nomes próprios do país de adoção.


Ilha de Naxos, Grécia.


Estas Case di Fiúza, já no Renascimento e em território dos Países Baixos, deram origem aos modernos bancos e casas de penhores e de câmbio. Os agora Fiúza teriam mantido a velha tradição hebraica de maestria nos negócios, no comércio, no mercado financeiro e monetário. Na Baixa Idade Média, as cidades-estado italianas se envolveram em disputas ferrenhas em torno de mercados e comércio, disputas essas que, com frequência, se tornavam guerras. Teriam decidido, assim, emigrar mais uma vez, agora para a Península Ibérica. Os reinos da Espanha e Portugal os teriam recebido muito bem, pois, tanto a monarquia como o povo, precisava de empréstimos e o dinheiro judeu era bem-vindo, pois trazia progresso e desenvolvimento.


Ruina de templo em Naxos.


Os países ibéricos estavam envolvidos totalmente na guerra contra os mouros, invasores de seu território desde 711. A ajuda financeira dos judeus foi essencial no sucesso desta grande empreitada. Os judeus viveram seu período de ouro, desde os tempos bíblicos, na Baixa Idade Média e início do Renascimento, na Península Ibérica, por eles denominada de Sefarad, que em hebraico significa terra prometida. Entretanto, com uma devastadora frequência, eram vítimas de perseguições, calúnias, difamações e injúrias por parte do populacho ignorante, insuflado por alas invejosas e radicais da Igreja, que não suportavam seu sucesso financeiro e comercial. Apesar do apoio das respectivas Coroas e de grande parte da nobreza da Espanha e Portugal, a Inquisição, que tivera seu início em 1211, aumentava cada vez mais os ataques violentos contra o povo judeu. 


Presença de judeus, árabes e moçárabes, com suas respectivas
línguas, na Península Ibérica.


Foram sucessivos pogroms (ataques e destruição em massa contra os bens e a vida de um povo, seja judeu, protestante, eslavo ou outra minoria étnica). Foram descritos também diversos holocaustos na Inglaterra, Alemanha, França e, mais tarde, na Península Ibérica. Tudo culminou com a dramática expulsão dos judeus da Espanha em 1492, pelos Reis Católicos, Fernando de Aragão e Isabel de Castela. Cinco anos depois, foi a vez de Portugal promover sua deportação em massa, promovida pelo rei D. Manuel I (O Venturoso), já que para se casar com sua noiva Isabel, filha dos Reis Católicos, lhe foi imposta esta execrável condição, ou seja, ele só poderia se casar com sua noiva caso expulsasse os judeus do território lusitano. Os Reis Católicos sabiam que D. Manuel pensava diferente, era amigo dos judeus e tinha consciência da importância do povo hebreu para a economia portuguesa. Mas a pressão espanhola foi demais para o fraco monarca. A contragosto, o rei português expulsou os judeus de seu país, em 1497. Mas, antes havia tentado uma conversão em massa deste povo em todo o país, criando a figura do cristão-novo, isto é, o converso do judaísmo (ou islamismo) para o cristianismo. Havia sido um jeitinho que encontrara para tapear seus futuros sogros e manter os judeus em Portugal. Milhares de judeus tiveram como única solução a conversão, para não serem expulsos, ou serem pegos pelas teias da Inquisição, cujo final era a fogueira. Outros milhares foram obrigados a fugir, usando dos recursos que podiam angariar, notadamente disfarçados e embarcados em navios comerciais ou naves clandestinas. 


Expulsão dos judeus da Espanha, em 1492.
Michaly Von Zichy, 1880.



Expulsão dos judeus de Portugal em 1497.


Grande parte dos cristãos-novos que ficou em Portugal manteve a fé judaica em segredo, no recesso de seus lares. Daí a desconfiança generalizada dos portugueses em relação a eles. Os judeus eram também conhecidos como povo da Nação e marranos, esta última, uma palavra que pode ter um duplo sentido: a- desde a Idade Média a palavra significa suíno (segundo o historiador Cecil Roth), uma referência injuriosa, ofensiva, que revela o profundo ódio e desprezo dos ibéricos para com os judeus;  b- a palavra poderia vir da expressão judaica mar anuss, isto é, convertido à força. Esta segunda hipótese não é levada a sério, pois era desconhecida dos próprios judeus.


Moshe Maimon (1893). Marranos. Retrata o Sêder de Pessach
realizado secretamente na Espanha, à época da Inquisição
    


Os Fiúza, como os demais judeus, teriam fugido da Espanha e se dirigido para a África do Norte, a França, a Holanda, a Inglaterra, a Alemanha e para Portugal. De se notar que a grande maioria dos Fiúza teria migrado para Portugal, mas tivera que migrar novamente com a onda de perseguições que se seguiu a 1497. A Holanda foi seu destino de preferência. Ali havia liberdade de credo religioso, respeito, tolerância e liberdade para o exercício de suas profissões, ligadas não somente ao comércio e às finanças, mas principalmente ao mundo intelectual. Os Fiúza, como todo o povo judeu, tinham uma educação esmerada. A intelectualidade européia na época, à exceção da hierarquia da Igreja Católica, era composta por judeus: geógrafos, cosmógrafos, matemáticos, astrônomos, arquitetos, engenheiros, médicos, juristas, químicos, professores, etc. Muitos dos Fiúza teriam continuado a ser armadores e banqueiros, mas muitos outros tornar-se-iam geógrafos e navegadores. Com isso, teriam participado da nova Era dos Descobrimentos.



União de Utrecht, dos Países Baixos. 1579.


A Holanda, nos séculos XVI e XVII, desenvolveu a tal ponto o nascente capitalismo burguês, que, além do progresso e desenvolvimento extraordinários para seu país, criou as raízes bancárias do sistema capitalista moderno. Os Fiúza teriam participado na fundação da Companhia dos Diamantes, futuro núcleo do truste internacional de pedras preciosas, notadamente ouro e diamantes, que até hoje é dominado pelo cartel judaico anglo-holandês. Teriam mantido grandes negócios com a Itália e com o Brasil, a grande terra incognita do Novo Mundo. Sua sede hoje está na África do Sul, mas o Brasil continua um importante elo desta corrente que tem o seu forte no eixo Nova Iorque-Londres-Amsterdã.


Guilherme, o Taciturno.


A Espanha, há séculos, perseguia a hegemonia na Península Ibérica. Em 1148, Portugal tornara-se independente de Castela e Leão e desde então escaramuças maiores ou menores com frequência azedavam as relações entre os dois países. O domínio espanhol sobre Portugal só ocorreu no final do século XVI quando o rei português, D. Sebastião, morreu na desastrosa campanha contra os mouros de África, na histórica batalha de Alcácer-Quibir. Era o ano de 1578 e o último rei da dinastia de Avis morria sem deixar herdeiros. Seu tio, e único sobrevivente desta dinastia, o cardeal dom Henrique, assumiu a regência, mas morreu apenas dois anos depois. O rei da Espanha, Felipe II, da mesma linhagem familiar, achou-se no direito de ocupar o trono português e invadiu Portugal. O domínio espanhol sobre a terra lusa durou 60 anos, de 1580 a 1640
Portugal tinha boas relações comerciais com a Holanda, principalmente por que esta, através de grandes banqueiros e comerciantes judeus, financiava a produção de açúcar brasileiro. O Brasil era, então, o maior produtor mundial. Porém, a Espanha tinha por objetivo dominar o território dos Países Baixos, o norte, onde havia forte influência protestante, e o sul, onde predominavam os católicos, já que o comércio de mercadorias naquela região poderia fornecer aos cofres da Coroa espanhola o dinheiro que o Império necessitava. A Espanha invadiu toda a região, dominando principalmente os territórios ao sul e parte dos do norte. Mas a guerra coincidiu com a revolta protestante contra a Igreja Católica Romana e seu corolário, de então, a Inquisição. O calvinismo foi conquistando cada vez mais corações e mentes em todos os territórios dos Países Baixos. A revolta contra os espanhóis foi aumentando e recrudesceu após a invasão castelhana coordenada pelo Duque de Alba (Fernando Alvarez de Toledo). Sua excessiva repressão contra os revoltosos gerou uma reação ainda mais violenta, comandada por Guilherme I, o Silencioso, ou Taciturno, príncipe de Orange, um dos mais importantes nobres da região. As diversas regiões foram caindo, uma a uma, em mãos dos revoltosos, com a expulsão dos espanhóis. Em 1579 formou-se a União de Utrecht, uma aliança anti-espanhola, da qual participavam todas as regiões do norte e parte dos do sul dos Países Baixos. Em 1581, foi criada a República das Províncias Unidas, englobando sete províncias dos Países Baixos (Frísia, Groningen, Güeldres, Holanda, Overijssel, Utrecht e Zelândia). Esta aliança dividiu os Países Baixos entre os territórios protestantes do Norte o os territórios de maioria católica do Sul, dando origem, respectivamente, algum tempo depois, à Holanda (mas que manteve uma forte presença católica) e à Bélgica. A guerra perdurou ainda por mais alguns anos, com a Espanha recuperando parte do território perdido. Entretanto, em 1588, a Espanha entrou em uma aventura desastrosa, quando a sua Armada Invencível enfrentou a marinha britânica no Canal da Mancha, sendo inapelavelmente derrotada pela tempestade e pelo melhor preparo da marinha inglesa. A partir daí começou a derrocada do Império espanhol em todo o mundo.
A reação holandesa não tardou e concentrou seus esforços em dominar o comércio no Ocidente e Oriente. Foram então fundadas as Companhias das Índias Orientais (em 1602) e, em decorrência de seu grande sucesso, a Companhia das Índias Ocidentais (em 1621). O Brasil estava na mira desta última e os judeus foram os principais financiadores das expedições holandesas, não somente para a obtenção do lucro, mas, e principalmente, como vingança pelas atrocidades sofridas quando viviam na Península Ibérica. Os holandeses terminaram por conquistar grande fatia do litoral do Nordeste do Brasil. Uma primeira tentativa de conquistar Salvador, em 1624, fracassou. Mas a segunda, em 1630, foi um sucesso, mais ao norte, e conquistaram Recife e Olinda, em Pernambuco.


O Brasil holandês (1530-1654).


Foi nomeado governador dessa região brasileira o conde João Maurício de Nassau. Quando aportou em Recife, em 1637, trouxe uma grande quantidade de judeus que, futuramente, prestariam serviços relevantes ao desenvolvimento da região. Os hebreus financiaram a administração eficiente da produção açucareira mantendo um bom relacionamento com os senhores de engenho da região. Muitos desses hebreus financiaram a compra de escravos negros de Angola e vários eram proprietários de navios para esse transporte. Naquela época não havia os conceitos de direitos civis e liberdade que começaram em fins do século XVIII e se consolidaram somente no século XIX. Assim, o tráfico negreiro era, não somente, aceitável como moralmente incentivado por todas as religiões e por todos os governos. Caso não houvesse a presença do escravo negro nas colônias, a sua exploração comercial tornar-se-ia completamente inviável. Os judeus tiveram uma participação ativa nesse tráfico e, apesar de hoje ser uma atividade totalmente condenável, é preciso que se veja a questão dentro do contexto histórico do período. Aliás, a escravidão era uma tradição em todos os países desde a Antiguidade, mesmos naqueles de fé cristã. Até o papado não condenava a escravidão até fins de século XVII. Considero a escravidão um dos episódios mais dolorosos e cruéis na história da Humanidade. Entretanto, entendo que os tempos eram outros, a filosofia de vida era completamente diferente da dos dias atuais. Os costumes, a moral e os princípios religiosos aceitavam a servidão ou a escravatura como uma necessidade criada por Deus. Eram poucos os que tinham convicção de que os negros, os índios, ou qualquer outro povo bárbaro, pudesse ter uma alma como a dos europeus civilizados. Felizmente esses conceitos pertencem ao passado.



Conde Maurício-Nassau, de Orange.


Com Maurício de Nassau, teriam vindo os três irmãos Fiúza, funcionários da Companhia das Índias Ocidentais: Ricardo Fiúza da Costa, Felipe Fiúza da Costa e Jacinto Fiúza da Costa. Os três teriam dado origem a todos os Fiúza brasileiros, de Norte a Sul do País. Um quarto irmão Fiúza teria optado pelas Antilhas, onde adquiriu terras em Barbados e se tornou um dos maiores exportadores mundiais de açúcar.  Todos teriam sido filhos do judeu português Ebenezer Fiúza da Costa, que havia migrado para a Holanda alguns anos antes, fugindo da Inquisição. Maurício de Nassau era calvinista, mas, sendo um homem erudito, interessava-se pelas ciências e pelas artes. Daí ter-se cercado de um seleto grupo de cientistas, arquitetos, engenheiros, pintores, médicos e outros profissionais importantes na reconstrução de uma colônia. Permitiu a liberdade de culto entre holandeses, franceses, italianos, belgas, alemães, flamengos e judeus. Estes, oriundos da Península Ibérica e do norte europeu, foram atraídos para a Nova Holanda, dado o clima de tolerância religiosa, que não havia na Europa, exceto nos Países Baixos. Em Recife, foi fundada a primeira sinagoga de todas as Américas. Muitos desses judeus de Recife, após a derrota holandesa para os portugueses, migraram para a Nova Amsterdã, na ilha de Manhattan, atual Nova Yorque. Até hoje participam do domínio mundial do mercado de pedras preciosas e ouro, além de sua enorme influência no mercado financeiro internacional.



A Restauração. Proclamação de D. João IV, como o primeiro
rei da Dinastia de Bragança. Pintado por Veloso Salgado.
Museu Militar de Lisboa.


Na Península Ibérica, em 1640, após batalhas em que os portugueses venceram os espanhóis, houve a restauração da Coroa portuguesa, tendo assumido o trono o duque de Bragança, sob o nome de D. João IV. Assim teve início a dinastia de Bragança. Foram expendidos, então, grandes esforços na luta contra os holandeses no Nordeste brasileiro. Os portugueses estavam com sua economia sufocada em função do domínio holandês no Nordeste. Todo o comércio de açúcar do Nordeste para a Europa estava nas mãos dos batavos. O Nordeste era de longe o principal produtor de açúcar no Brasil, já que as terras ao sul do Rio de Janeiro não eram boas para a plantação da cana. Além do mais, os holandeses haviam tomado Angola, em particular, Luanda, o principal porto fornecedor da mão de obra escrava negra para todo o Novo Mundo e para a Europa. A situação financeira da Coroa portuguesa era desesperadora. Daí terem redobrado os esforços de guerra contra os holandeses. Para isso, tiveram a colaboração da Inglaterra, rival dos holandeses no comércio naval, e que há séculos era uma tradicional aliada dos portugueses. Lisboa era um verdadeiro entreposto inglês na ponta mais ocidental da Europa, uma região estratégica. Na luta contra os holandeses, além da participação de tropas indígenas tupis, comandadas por Felipe Camarão, houve a importante participação de um verdadeiro exército negro comandado por Henrique Dias. Mas, não se pode desprezar a decisiva contribuição das tropas vindas do sul, a pedido do Rei, compostas por experientes bandeirantes e sertanistas paulistas. Muitas dessas tropas subiram por dentro do território brasileiro, já conhecido por esses audazes desbravadores, passando pelo território que, mais tarde, viria a ser Minas Gerais. Seguiram a rota do rio São Francisco, já conhecida desde o século XVI.



Victor Meirelles. Batalha dos Guararapes, óleo sobre tela, 494,5 x 923 cm,
Rio de Janeiro, Museu Nacional de Belas Artes. Batalha na qual
os holandeses foram derrotados pelas forças portuguesas e,
como consequência, deixaram o Brasil.



Em 1654, os holandeses já enfraquecidos por lutas em diversas frentes, foram expulsos do Brasil. Os irmãos Fiúza teriam decidido permanecer por aqui. Para todos os efeitos, eram cristãos-novos e essa condição no Brasil era muito melhor tolerada do que em Portugal. A bem da verdade, para o povo pouco importava o antepassado religioso de alguém. Desde que fosse trabalhador e útil nas atividades da colônia, seria tratado como se fosse um cristão-velho. Menos os jesuítas e a hierarquia da Igreja no Brasil. Ricardo Fiúza da Costa teria permanecido no Recife, onde montou uma indústria textil em escala artesanal, com o auxílio da mão-de-obra escrava. Seus descendentes até hoje moram na região e em outras partes do País, e continuam a trabalhar no mesmo ramo. Felipe Fiúza da Costa teria ido para o Ceará, onde fundou fazenda de gado e gerou grande descendência. Jacinto Fiúza da Costa teria emigrado para o sul. Estabeleceu-se em Santos, onde adquiriu um engenho de açúcar. Teria tido também grande descendência ao se amancebar com diversas índias de origem tupi, tamaraica e outras etnias.




Entradas e bandeiras em Minas Gerais. Fonte: João Camillo de Oliveira Torres.
História da Capitania de Minas Gerais. Vol. I, 1978.





Segundo Rubens Fiúza, em relato não corroborado por outros historiadores mineiros, Jacinto Fiúza da Costa foi picado pela mosca azul do sertanismo e bandeirismo, só que seu interesse não era o aprisionamento de índios, e sim a busca pelo ouro e diamantes. Três de seus filhos com uma índia tamaraica, os “irmãos Jorge” (João Jorge Fiúza da Costa, Salvador Jorge Fiúza da Costa e Miguel Jorge Fiúza da Costa), mamelucos, teriam se embrenhado pelos sertões das futuras Minas Gerais, e foram dos primeiros desbravadores da região do Campo Grande, na margem esquerda do Alto São Francisco. Em episódio historicamente não comprovado, todos eles teriam sido trucidados pelos índios caiapós da região, em represália pelo furto de algumas belas índias dessa etnia, o que era considerado uma grande afronta para qualquer tribo indígena, quando a bandeira de Bartolomeu Bueno da Silva, o velho, conhecido como o Anhanguera, passou pela região, em 1682, demandando o território de Goiás, onde se esperava encontrar muito ouro.

Relata ainda Rubens Fiúza, que um filho de Jacinto Fiúza da Costa, homônimo do pai, havia se mudado para Vila Rica em meados do século XVII. Quando se consulta os principais historiadores da capitania de Minas Gerais, verifica-se que é unânime a descrição de que os primeiros achados de ouro nessa região datam da oitava ou nona décadas do século XVII (mais precisamente, entre 1693 e 1698). Logo, os primeiros povoados começaram a surgir em volta das lavras auríferas nas margens de riachos ou nas encostas próximas. A fundação de Vila Rica e Mariana data de 1711, o que entra em choque com as afirmações de Rubens Fiúza, pois este diz que Jacinto ali residia há mais de cinquenta anos. Relata ainda o autor dorense, que um filho deste Jacinto Fiúza da Costa, o moço, chamado Jacinto Fiúza de Almeida, já se encontrava morando nas proximidades de Pitangui (duas léguas), num sítio denominado de São João, desde 1670. Outro fato não corroborado por pesquisadores e historiadores antigos e contemporâneos. Ora, Pitangui foi um dos últimos grandes sítios auríferos a serem descobertos na capitania de Minas Gerais. Isso ocorreria na primeira década do século XVIII. A Vila de Pitangui seria fundada em 1715, poucos anos após a descoberta do ouro em sua região. É muito improvável que esse personagem ali vivesse há, pelo menos, trinta anos antes das primeiras descobertas de ouro em Pitangui e sessenta anos antes das descobertas de diamante em território mais ao norte. Seria este Jacinto Fiúza de Almeida um contrabandista de diamantes e fornecedor de pedras para o cartel judaico de Amsterdã. Não sabemos quanto de fantasia e realidade existe nessas afirmações. De qualquer forma, este Jacinto Fiúza de Almeida seria o ancestral de todos os Fiúza originários de Dores do Indaiá e de outras cidades próximas. Sua área de atuação era a da mineração da região dos rios Indaiá e Abaeté. Sabemos que a descoberta de diamantes nos leitos e nas margens desses rios se deu por volta da terceira década do século XVIII. Tudo foi mantido em segredo pela Coroa portuguesa, que logo se encarregou de baixar leis tornando a prospecção e comercialização dos diamantes como monopólio real. Mas a notícia verdadeiramente se espalhou como um rastilho de pólvora pela capitania, em seguida pelo Brasil, pela Europa e pelo mundo, somente nas duas últimas décadas do século XVIII. Portanto, todas essas informações precisam ser devidamente checadas antes que se possa dá-las como um fato histórico.


O Rio Indaiá, rico em diamantes, descobertos em 1726.
Esta foto é do período da construção da ferrovia da Rede
Mineira de Viação, em 1922. Fonte: Carlos Cunha Corrêa, 
Serra da Saudade, 1948.

A partir deste momento, o relato de Rubens Fiúza começa a se aproximar da genealogia de Longueteau, quando diz que Jacinto Fiúza de Almeida teve uma filha (não aponta quem é a mãe), chamada Ana Epifânia Pinto Fiúza, que foi casada com João Pinto Coelho, importante comerciante em Pitangui. Este casal teve um filho, Domingos Pinto Coelho, que se casou com Ana Angélica Fiúza. Deste matrimônio nasceu Ricardo Pinto Fiúza, o velho, que se casou com Maria Delfina dos Santos. Ricardo e Maria Delfina foram pais de Herculano Pinto Fiúza (Dolor), que foi casado com Maria Vieira Fiúza. Ambos tiveram deste matrimônio uma filha única: Etelvina Maria dos Santos, a nossa personagem principal neste texto. Assim, Etelvina seria legítima descendente de judeus sefarditas, ou cristãos-novos, ou ainda marranos. Corria em suas veias uma boa parcela de sangue hebreu, pelo menos na versão de Rubens Fiúza.


Etelvina e seu tempo

Em 1858, ano do nascimento de Etelvina Maria dos Santos, Dores do Indaiá era uma pachorrenta e pacata vila no “fim do mundo”. Havia recuperado sua condição de vila há cinco anos, título que lhe havia sido cassado em 1851 em função do desinteresse da população pela construção de edifícios públicos. Em 1853 o governo provincial restaurou essa condição, após manifestações populares no sentido de mudanças de atitudes. Era uma vila que não teve projeto urbanístico e arquitetônico, à exceção do núcleo inicial, isto é a praça da Matriz de São Sebastião. Suas poucas ruas e ruelas não tinham alinhamento, umas com as outras, e apresentavam desenho irregular. Era frequente a presença de mato e buracos pelas vias públicas, onde uma fauna de cavalos, mulas, bois, porcos e galinhas, andava em busca de seu precioso alimento. Não havia rede de esgotos, benefício somente adquirido na segunda metade do século seguinte, e havia águas de esgotos e pluviais escorrendo por canaletas naturais nos cantos das ruelas. As melhores casas, feitas com tijolos, ou mesmo de taipa, mas com telhados, eram encontradas na praça da Matriz, onde moravam os fazendeiros. As demais eram casas de barro batido e cobertas de sapé. Aliás, durante a semana, a vila permanecia um ermo, pois a maioria de seus habitantes mais abastados morava mesmo era nas suas fazendas, indo à vila nos fins de semana para fazer as compras necessárias, assistir aos cultos religiosos, manter contato e confraternizar com os demais moradores.


Matriz de São Sebastião, cujo término de construção ocorreu em 1832.
Demolida, num ato de pleno vandalismo administrativo, em 1937.

Desde 1830 o arraial tinha um professor para alunos de primeiro grau. Era Flávio Máximo Pereira Duarte, conhecido como Mestre Flávio e era vereador à Câmara de Pitangui. A partir de 1848, ele representava o arraial de Dores do Indaiá, onde ia periodicamente para ministrar suas aulas para crianças e adultos.
A vida social nos primeiros tempos do arraial era muito restrita, já que quase todos os moradores viviam em suas fazendas. Em 1832 surge a Irmandade Nossa Senhora do Rosário, quando começam a ser comemorados a Festa do Rosário, a Folia de Reis e o Congado. Tradição iniciada pelos negros descendentes de quilombolas (Quilombo do Ambrósio) e aqueles antigos habitantes do arraial dos Porcos que, mesmo antes da fundação do Arraial da Boa Vista, em 1798, já haviam se mudado para as suas imediações, fugindo às enchentes e inundações anuais do ribeirão dos Porcos. O local escolhido por eles para fazer seu novo arraial ficava situado onde depois passou a ser conhecido como Cerrado (atual Bairro Juiz de Fora). Essa tradição religiosa é mantida até hoje e é considerada uma das melhores do Estado de Minas Gerais.
Em 1854 a pequena vila, de pouco mais de mil habitantes, recebeu novos moradores, vindos de Pitangui, Vila Rica, Sabará, Tamanduá (Itapecerica), Curvelo e outras localidades. Pertencia à Comarca do Rio das Velhas, com sede em Sabará, mas, em 1855, foi criada a Comarca do Indaiá, com sede em Pitangui. Desde 1828, o arraial já possuía um juiz de Paz e, nesse mesmo ano, o Capitão Elias Pinto Coelho, um dos fundadores do arraial, é nomeado como a primeira autoridade judiciária do local.
A agência dos Correios foi criada em 1857. Entre 1857 e 1860, a Câmara Municipal, composta por poucos vereadores, foi presidida por Narciso Pereira da Costa, cargo equivalente ao de agente executivo municipal, que hoje corresponde ao de prefeito municipal. Seu mandato foi interrompido em alguns pequenos períodos, quando assumiram, em 1857, parte de 1858 e 1860, o vice-presidente Antônio José Ribeiro Caldas, e Francisco Fernandes de Souza. De 1861 a 1864 foi presidente da câmara e agente executivo municipal o tenente-coronel Antônio Zacarias Álvares da Silva, o famoso Barão do Indaiá, cuja residência ficava em Marmelada, atual Abaeté. Em 1862 a vila recebe seu primeiro juiz de órfãos, Militão José Ribeiro e Souza. Entre 1865 e 1868 o presidente da câmara e agente executivo municipal eleito foi Francisco de Sousa Ferreira Coelho, filho de Francisco de Sousa Coelho, ex-padre e influente líder político e intelectual em Dores do Indaiá. Este, por sua vez, era filho de José de Sousa Coelho (Juca de Sousa), antigo camarista (vereador) em Pitangui, e um dos fazendeiros fundadores do Arraial da Boa Vista, futuro Arraial de Nossa Senhora das Dores. Alguns anos depois, Francisco, neto de Juca de Sousa, muda-se para o Triângulo Mineiro, onde vem a falecer quando de uma pescaria. Juca de Sousa, o velho, era filho de judeus portugueses. Sua mãe emigrou para o Brasil e veio morar em Pitangui, após seu pai ter sido queimado na fogueira da Inquisição, no último quartel do século XVIII. Tornou-se um dos maiores contrabandistas de diamantes para o cartel judaico anglo-holandês, além de fazendeiro.
Apesar de ser uma vila pacata, Dores não era muito conservadora, pelo contrário. Em 1842, o então arraial participou ativamente da Revolução Liberal, com fortes repercussões regionais. Seus lideres foram exatamente o ex-padre Francisco de Sousa Coelho, o tenente-coronel Elias Pinto da Fonseca, filho de outro dos fundadores do arraial, e Manuel Jacinto Rodrigues Véu. Pertenciam ao partido dos liberais, conhecidos como chimangos, que se opunham aos conservadores, os caramurus, ou legalistas. Os primeiros sonhavam com alguma coisa semelhante a uma república liberal, enquanto os segundos eram fortemente monarquistas conservadores. Com a vitória destes últimos, os liberais foram perseguidos e seus líderes presos. Mas foram logo libertados, dentro da política do imperador Pedro II de apaziguar os ânimos e estabelecer a concórdia em seu império. Em todo o século XIX, a vila de Dores, e a partir de 1885, quando a vila foi promovida a cidade, predominava uma política liberal entre os mais cultos e letrados. O contrário do que viria a ocorrer a partir da segunda década do século XX, quando passou a predominar uma política bastante conservadora.
A vila de Nossa Senhora das Dores passou a ser progressivamente chamada de Dores do Indaiá a partir de 1832, quando os primeiros documentos que registravam este nome passaram a ser conhecidos. Este foi o ano em que a Matriz de São Sebastião foi concluída, construção que levou quase três décadas. Em 1834 foi sepultado, em seu interior, um dos principais fundadores do Arraial da Boa Vista, Manoel Corrêa de Souza, o Correinha, fazendeiro que doou o terreno onde foi construída a Matriz. Nesta praça da Matriz foram construídas, a partir da década de 1810, as primeiras casas dos fazendeiros e agregados. Sempre foi uma localidade de grande fervor religioso e as manifestações e comemorações religiosas eram periódicas.



Praça do Sagrado Coração de Maria (Praça dos Coqueiros), construída em 1873.


Em 1873, Frei Paulino, um missionário italiano, estava em Dores. Não se limitava a pregar a palavra do Evangelho, em todos os locais por onde passava procurava levar melhoramentos através de obras e construções e incentivava a população a participar das mesmas. Ao passar por onde é hoje a Praça dos Coqueiros, viu a extraordinária vista dali descortinada. Ao mesmo tempo, ficou impressionado com o abandono do local, cheio de buracos. Apelou para toda a população, homens, mulheres, idosos e crianças para ajudar a construir ali uma praça dedicada ao Sagrado Coração de Maria. Assim foi feito. Após uma pregação no púlpito da Matriz, quando conclamou toda a população a fazer um mutirão para a construção da nova praça, houve uma mobilização geral para a sua concretização. O povo carregou em seus próprios carrinhos pedregulhos e cascalho de uma propriedade nas proximidades, e o local foi devidamente aterrado e aplanado. Foram feitas covas, preenchidas com terra de boa qualidade, e nelas plantados coqueiros. Conseguiu que as crianças, filhas das melhores famílias locais cuidassem, cada uma, de seu coqueiro. Todos os dias, após o culto na Matriz, Frei Paulino falava ao povo e os incentivava a manter o ritmo das obras. Dentre as meninas-moças que cuidaram dos coqueiros, o prof. Waldemar de Almeida Barbosa, em seu livro Dores do Indaiá do Passado (1964) aponta as seguintes (p. 51): Siá Bilia (d. Maria de Souza Melgaço), Siá Colô (Claudina de Sousa Coelho, filha mais velha do ex-padre Francisco de Sousa Coelho), Siá Zinga, Siá Didinga (Leopoldina de Sousa Melgaço), Etelvina Maria dos Santos (por ele designada como Etelvina Fiúza), Policena Andrade, Eurélia (mãe do Sr. Iano), Mariquinha (Maria Luíza de Macedo, avó do ex-prefeito de Dores, Mário Carneiro) e muitas outras. Conclui-se, portanto, que aos 15 anos de idade, Etelvina Maria dos Santos já tinha uma presença ativa na vida da comunidade e era uma personalidade importante do local. Após o plantio dos coqueiros, colocou-se, no centro da praça, o cruzeiro, com peças belissimamente trabalhadas, representando o calvário de Cristo. À tarde, com o sol poente, a visão da praça era simplesmente deslumbrante, com a vista da Serra da Saudade ao fundo. Apesar de seu atual semi-abandono (vez ou outra passa por uma reforma), até hoje a Praça dos Coqueiros, como ficou popularmente conhecida, é um espetáculo emocionante para quem tenha vivido a infância ou juventude na cidade e ali retorna.


Cerimônia religiosa defronte a casa de Alda Lacerda Bernardes,
filha de Clara Angélica Fiúza e neta de Etelvina. S/d, autor desconhecido.


Como teria sido a infância, adolescência e juventude de Etelvina? Uma questão difícil de ser compreendida hoje em dia, em tempos de globalização, quando cada casa da cidade ou do campo tem a sua televisão, seu rádio e, cada vez mais disseminadamente, seu computador, com o inevitável acesso à internet. Atualmente, quando se vai a Dores do Indaiá, não se vê muita diferença no comportamento das crianças, adolescentes e jovens em relação aos da Capital, até mesmo os do Rio de Janeiro e de São Paulo, em função dessa globalização. A sexualidade hoje é liberada, nada mais é tabu, tudo visto com muita naturalidade, tudo natural até demais. É o que observamos no presente, quando, no passado, essa era uma muito delicada questão. Vemos hoje abusos de todo tipo: além do sexo, álcool, drogas, direção de veículos em velocidade incompatível com o local, muitas vezes com o motorista embriagado, desrespeito ao pedestre, desrespeito à figura dos mais velhos e até da autoridade, tudo hoje é banal, tudo é “normal”. Esse é um dos problemas que o País tem enfrentado, como um todo. A ética há muito deixou de existir. Se no mundo político, começando pela cúpula do governo que hoje nos “assiste”, vemos total confusão entre o público e o privado, imaginemos o que isso serve de exemplo para a população, principalmente para os mais jovens, sem noção de limites e do que é legal ou ético. Aliás, o conceito de ética e de moralidade hoje se desfaz a olhos vistos.



A praça da Matriz de São Sebastião, em dia festivo de fim de semana.
Foto provavelmente da segunda década do século XX. Vê-se um moinho
de vento que acionava bomba para retirar água do subsolo.


Nada era assim nos tempos da mocidade de Etelvina. O mundo era outro. Como não vivi nem remotamente no espírito daquele tempo, vou me socorrer nas palavras de meu tio-avô, o acadêmico Carlos Cunha Corrêa, que, em seu livro pioneiro sobre a história da região, Serra da Saudade, retratou de forma impecável e magistral, com a verve e o fino humor que lhe eram tão peculiares, como se desenvolviam os costumes dos fazendeiros da região de Dores do Indaiá, e mesmo dos moradores da cidade, no século XIX e início do século XX. Transcrevo o que o grande advogado e escritor dorense nos diz, às páginas 197-199:

"Ninguém ignora que três são os fatores que concorrem na educação da infância: o lar, a escola e a sociedade, ou por outra – os pais, os professores e o ambiente social.
Ora, como se falar em ambiente social onde tudo eram fazendas distanciadas, isoladas, de poucos habitantes, rústicos? Professores, ou não os havia ou os raros mestres da roça encontrados pouco menos eram de analfabetos. Sua minguada bagagem literária restringia-se a péssima caligrafia, leitura viciadíssima com tropeços nas silabadas, via de regra não entendendo ou não sabendo interpretar o mais corriqueiro texto. Nenhuma noção da mais rudimentar pedagogia, mormente sobre instrução moral e cívica. Os livros escolares, quando os havia, ensebados e rotos, eram indigestos, dogmáticos, pelo método de perguntas e respostas que sobrecarregavam inutilmente a memória do educando, num improfícuo esforço de decorar, à feição de catecismo religioso. Nenhum aluno sabia, nem o professor, o que vinha a ser o bicho-de-sete-cabeças das malfadadas calmarias, que deram com os costados de Cabral nas costas brasileiras. Digo-o de ciência própria pois que já no meu tempo, de escola oficial com professor formado em farmácia, só depois de avançado no curso secundário, e por esforço pessoal, vim a saber a significação de calmaria, quando pela primeira vez me caiu em mãos um dicionário. E será que atualmente a coisa esteja melhorada?
De modo e maneira que restava o lar tão só para a delicada tarefa de educar a prole. Os chefes, porém, labutavam de sol nascente à noite alta e não lhes sobejavam tempo e habilitações. Donde toda a responsabilidade dessa missão recair sobre as mães, analfabetas, via de regra. Pois foram estas, descendentes próximas ou remotas de ameríndias, que obraram o milagre admirável de não deixar a prole se corromper pela depravação no deserto, pela dissolução de costumes e bruteza de hábitos: foram as sacerdotisas do lar, que o souberam plasmar austero e honrado.
Descendentes quase todas de mamelucos paulistas educados pelos Jesuítas, e vindas, como disse, de Lavras, Pitangui, Vila Rica e Queluz, foram os gênios tutelares do gineceu dorense, modeladoras de lares honestos, sabendo conservar e transmitir a moral cristã: se não tinham instrução literária, eram ricas de bons sentimentos. O lar sertanejo era o santuário de que ao estranho só era dado conhecer o limiar. Tão rigoroso era o recato da família que o namoro das meninas se havia com tal habilidade que conseguia passar pelo buraco da fechadura. Numa justa compreensão das leis biológicas e da precocidade dos instintos da maternidade, promoviam o casamento das filhas tão logo atingiam a idade de treze anos (em vários assentamentos eclesiásticos é essa a idade encontrada, predominante, para as nubentes). Corre até que havia o excelente costume, que era dar o pai ao filho mancebo, já emancipado, ampla liberdade para se casar, quando e como quisesse, contanto que fosse com a Joanita, filha do compadre Janjão, seu vizinho ou parente. Quando, além da Joanita, tinha o compadre mais uma ou duas filhas casadouras, a traça usada era levar o improvisado aspirante a uma visita. Ali vinham à sala servir o café as duas ou três meninas – uma trazendo a bandeja sortida, outra, o leite, e a terceira, o prato com os bolinhos, etc. (este etc. nem sempre se comia).
De regresso, em caminho, o velho, sem encarar o filho, queria saber qual delas fora a eleita. Não era rara a resposta de que qualquer servia. Nesta hipótese, o velho do candidato voltaria a saber do velho das meninas qual delas mais agradara do seu menino. Esta usança, todavia, era mais liberal do que o sistema usado pelos nossos dois Pedros, I e II, cujas três esposas já o eram, quando os viram pela primeira vez."

Nada há a acrescentar a tão perfeita e fiel descrição dos costumes de então. Daí se pode inferir como foi o namoro e casamento de Etelvina Maria dos Santos, minha bisavó.
Seu consorte foi Francisco Ribeiro Coelho (1847-1907), filho de uma tradicional família de Dores do Indaiá e Pitangui. Casaram-se em 1878, quando ela tinha vinte anos. Francisco era o terceiro de sete filhos de João Ribeiro Coelho (1818-1878) e Angélica Cândida de Jesus (1816-1879). O casamento de seus pais se deu no dia dez de julho de 1840, em Dores do Indaiá. Os demais irmãos de Francisco eram: João Ribeiro Coelho (1842-1878), Collecta Ribeiro Coelho (1845-?), Manuel Ribeiro Coelho (1849-?), Maria Rosa de Viterbo (1853-?), Luiza (1857-?) e Alexandrina Maria da Conceição (?-1898). Francisco foi Juiz de Paz em Dores do Indaiá e participou de sua primeira Câmara Municipal (Camarista).
Por sua vez, João Ribeiro Coelho era filho de Jerônimo Ribeiro Coelho (1775-1819) e Luiza Antônia da Silva (1785-?). Eles se casaram em Pitangui, em 1800, e ambos faleceram em Dores do Indaiá, ele, em 15 de setembro de 1819, e ela em data desconhecida.
Angélica Cândida de Jesus (aparentemente, ela deu origem à tradição do nome “Angélica”) era filha de Gabriel José Fernandes (1809-?) e Francisca Ribeiro de Sousa (1800-?). Esta é a genealogia de meu bisavô Francisco Ribeiro Coelho, o máximo conseguido pelo ingente trabalho de Jean Pierre Longueteau, como já citado.
Entre os anos de 1880 e 1903, Etelvina deu à luz nove filhos, em grande parte nascidos em sua Fazenda dos Cocais. Ela recebera esta fazenda como um presente de sua tia (e maior amiga) Carlota de Sousa Coelho (Cota), filha do ex-padre Francisco de Sousa Coelho e neta de José de Sousa Coelho (Juca de Sousa), vereador em Pitangui e um dos pioneiros de Dores do Indaiá, como vimos, e de ascendência judaica.



Fazenda dos Cocais. Óleo sobre tela. Gentilmente enviada
pelo primo Paulo Ribeiro de Andrade.



Cota era esposa de Felício Pinto Fiúza (1840-1912), o sétimo irmão de Herculano, pai de Etelvina. Cota era uma mulher de posses, já que vinha de família de fazendeiros, mas cuja principal renda era proveniente da mineração de diamantes e do contrabando dos mesmos para o cartel hebraico, sediado em Londres e Amsterdã. Era a irmã caçula de pessoas influentes em Dores do Indaiá, os Sousa Coelho, como Claudina (Colô), Francisca, Luíza, Ovídio, José e Francisco. O tenente-coronel José de Sousa Coelho (o neto) fora presidente da câmara e agente executivo municipal (prefeito) de Dores do Indaiá, no período de 1882 a 1890, com mandatos em tempos intercalados.


Esta foto encontra-se exposta na Prefeitura Municipal
de Dores do Indaiá. S/d. Autor desconhecido.


Carlos Cunha Corrêa reproduz uma foto sua em seu livro Serra da Saudade e faz elogiosas referências à sua personalidade e ao seu trabalho sério, honesto e respeitado frente à municipalidade dorense de final do século XIX. Foi ele uma das personagens mais importantes de Dores do Indaiá neste período, ao lado do dr. Antônio Zacarias Álvares da Silva, que o sucedeu como presidente da câmara e agente executivo municipal. Foi o dr. Zacarias quem contratou os serviços de um engenheiro urbanista que desenhou o atual traçado das ruas e praças de Dores do Indaiá. Faleceu o dr. Zacarias em 1905, quando regava uma das mudas de fícus, na praça da Matriz de São Sebastião, causando comoção popular em Dores e no Rio de Janeiro, visto que era deputado à Câmara Federal, na capital do País e pessoa muito benquista por todos.

Tenente-coronel José de Sousa Coelho, em foto reproduzida
do livro de Carlos Cunha Corrêa, Serra da Saudade, p. 204-B.



Vista aérea de Dores, em 1936, mostrando o traçado
das ruas da cidade. Foto: Waldemar de Oliveira.


O tenente-coronel José de Sousa Coelho, irmão de Cota, durante o período em que administrou a cidade, soube impor o respeito e a ordem públicos, mantendo a cidade afastada da criminalidade e do banditismo, que imperara na região diamantífera dos rios Indaiá e Abaeté quase um século antes. Atendia aos reclamos dos cidadãos com urbanidade e civilidade. Foi um exemplo de cidadão e político. Era largamente admirado por todos.


Felício Pinto Fiúza, Carlota de Sousa Coelho (Cota)
e Ricardo Pinto Fiúza (Major).
Ca. 1880. Autor desconhecido.
Foto do acervo de D. Maria das Dores Caetano Guimarães (D. Branca)
e disponibilizada na internet por Eduardo Caetano Guimarães.

Carlota de Sousa Coelho (Cota) e Felício Pinto Fiúza não tiveram filhos e Etelvina era filha única de Herculano, daí ter surgido uma amizade profunda entre ambas, para sempre. Provavelmente este foi o grande motivo desta dádiva que foi a Fazenda dos Cocais, presente de Cota para Etelvina, uma das mais importantes e ricas fazendas de toda a região e próxima à cidade.
Cota e Etelvina eram tão amigas que o celebrado poeta dorense Tonico Caetano (Antônio Caetano da Silva Guimarães Junior), em seu livro Paisagens de Nossa Terra, publicado em 1970, onde ele coletou poemas escritos desde as primeiras décadas do século XX sobre personagens dorenses e sobre a cidade, dedicou a elas uma estrofe (p. 136):

Muito alegres, bem juntinhas,
A Sá Cota e a Sá Etelvina,
Queridas filhas de Dores,
Gente fina, gente fina.


Felício Pinto Fiúza era um homem de posses. Elegante, charmoso, bem ao estilo europeu. Felício era homem de finanças e fazendeiro em Dores do Indaiá. Numa época em que não havia bancos, ele vendia apólices de seguros, bem como vendia e descontava letras de câmbio. Tinha elevado conceito em toda a comunidade dorense. Haja vista os versos de Tonico Caetano sobre Felício e Cota (p. 49):

Felício Pinto Fiúza,
Em residência aprazível,
Contava juros de apólices,
Todo semestre. Infalível!

Tia Cota, do tio Felício,
Tia Chica do velho Bento,
Ambas no “largo” moravam,
Casas iguais a “convento”.


Felício fez importantes doações em dinheiro para a construção da Matriz de Nossa Senhora das Dores, construção iniciada em 1914 e terminada em 1921. Cota doou o sino da Matriz, que até hoje está no local, importado da Suíça, com uma placa de bronze alusiva a essa importante doação e gesto benemérito para com a cidade. Em homenagem ao casal, a comunidade apelidou o sino de "Felício". 


Matriz de Nossa Senhora das Dores, na década de 30 ou 40
do século XX. Foto de autor desconhecido.



Engrenagens do relógio da matriz instaladas em 1915. 
Fabricação suíça. Doação de Carlota (Cota) de Sousa Coelho.
Foto de Paulo Cesar Pinto Ribeiro, 2012.


Placa alusiva à doação do relógio da matriz em 1915. 
Foto de Paulo Cesar Pinto Ribeiro, 2012.


Felício e Cota não tiveram filhos. Numa de suas viagens, não se sabe se a negócios ou por outro motivo, ele envolveu-se com uma índia guarani em Bonfim de Goiás, posteriormente batizada como Maria de Abreu. Provavelmente Cota ficara em Dores do Indaiá. Da união nasceu um filho, que Cota fez questão de adotar e o criou como se filho seu fosse. Foi batizado com o nome de Ricardo Pinto Fiúza, conhecido como o moço, e também como Major ou Vovô Ricardinho. Casou-se ele com Maria de Sousa Melgaço, conhecida como Sá Bilia, filha de Luíza de Sousa Coelho, esta, por sua vez, filha de Francisco de Sousa Coelho (o ex-padre). Como se vê, em Dores do Indaiá todas as famílias se uniam em casamentos com elevado grau de consanguinidade. Uma das heranças do povo judeu para a região do Alto São Francisco. Também todos moravam na mesma praça, a da Matriz de São Sebastião. Infere-se que todos se viam com frequência, pela proximidade de suas habitações.


Família Melgaço. Ca. 1880.
À esquerda, de roupa clara, Maria de Sousa Melgaço (Sá Bilia), esposa
de Ricardo Pinto Fiúza (grávida). Ao centro, a matriarca, sua mãe, 
Luísa de Sousa Coelho, filha de Francisco de Sousa Coelho e neta
de José de Sousa Coelho (o Juca de Sousa).
Foto do acervo de D. Maria das Dores Caetano Guimarães (D. Branca)
e disponibilizada na internet por Eduardo Caetano Guimarães.


Ricardo Pinto Fiúza e Maria de Sousa Melgaço tiveram vários filhos: Maria, José, Sigefredo, Altina, Felício, Luíza, Jacinto, Genoveva, Ricardo, Edgard e Conceição, todos destacados membros das famílias Fiúza, Sousa Coelho e Melgaço, de Dores do Indaiá. Ricardo foi o patriarca que legou uma grande descendência de honrados cidadãos dorenses.




O casal Ricardo Pinto Fiúza e Maria de Sousa Melgaço e família.
Assentados, da esquerda para direita: Luisa,
Genoveva, Ricardo (Ricardinho), Maria de Sousa Melgaço (Sá Bilia),
Maria, Altina. Em pé: Felício, Jacinto, José, Conceição,
Ricardo, Sigefredo e Edgard Pinto Fiúza (o conhecido médico
e professor da Escola Normal).
Foto do acervo de D. Maria das Dores Caetano Guimarães (D. Branca)
e disponibilizada na internet por Eduardo Caetano Guimarães.


De Herculano Pinto Fiúza, o Dolor (ou Dolô), pai de Etelvina, mestre Tonico Caetano nos deixou os seguintes versos (p. 46):

Bem conhecido o Dolô,
Dos velhos antepassados,
Residiu sempre entre nós,
Com seus amigos prezados.


Necessário se faz relatar um episódio que provavelmente marcou muito a vida de Etelvina. Seu pai Herculano (Dolor) era um homem muito querido na cidade, cheio de amigos, como se pode observar nessa estrofe de Tonico Caetano. Não sabemos qual foi sua profissão. Com a esposa, Maria Vieira Fiúza, tivera apenas uma filha, Etelvina, como já vimos. Mas Dolor devia ser um homem bonito, atraente e sedutor. Homem ter aventuras extraconjugais no Brasil dos tempos coloniais e imperiais, e até mesmo durante um bom período da República Velha, não era o problema que hoje em dia se coloca do ponto de vista moral e familiar. Hoje seria impensável algo assim, mas naqueles tempos, da segunda metade do século XIX, era um fato corriqueiro. Quase todos os homens bem situados na vida que pudessem arcar com as necessárias despesas tinham uma segunda família ou até uma terceira. Herança dos tempos do Descobrimento, quando os portugueses que aqui chegavam se amancebavam com uma ou mais índias e isso era um comportamento normal, dentro da moral dos povos tupis. Quase toda a população brasileira, dos quinhentos e seiscentos, era mameluca, fruto da união do branco com a índia. A Igreja combatia essa prática, mas era completamente impotente para coibi-la. Até muitos sacerdotes constituíam famílias, às vezes com numerosos descendentes, para desespero de seus superiores e vergonha da Igreja. Isso ocorreu também em Dores do Indaiá, com histórias famosas que não vem ao caso aqui relatar.
Dolor, isto é, Herculano Pinto Fiúza, o velho, conheceu uma linda mameluca originária do Arraial dos Porcos, em data incerta. Seu nome era Maria Cândida Ribeiro de São José (?-1917), mas entrou para a história dorense como Candinha dos Porcos. Esta estória está descrita no livro Do São Francisco ao Indaiá, do prof. Rubens Fiúza (2003) (pp. 298-299), mas esse relato apresenta diversas inconsistências que precisam de uma melhor elucidação, por se tratar de assunto tão delicado para diversas famílias dorenses.



Maria Cândida Ribeiro de São José (Candinha dos Porcos).
Sua fisionomia revela, além de uma beleza firme, uma pessoa
determinada, forte, corajosa. Uma mulher muito à frente de seu tempo.
Foto do acervo de Marconi Pinto da Cunha, disponível no
grupo História de Dores do Indaiá, no Facebook.


A mãe de Maria Cândida Ribeiro de São José (Candinha dos Porcos) era uma índia caiapó destribalizada, batizada com o nome de Maria Cândida de São José, e seu pai foi o primeiro juiz de órfãos da vila, em 1862, Militão José Ribeiro e Souza. Este, por sua vez, também era um homem casado, cuja esposa era Carlota Maria de São José, uma neta do Capitão Amaro da Costa Guimarães, isto é, pertencente a uma das mais tradicionais famílias de pioneiros de Dores do Indaiá.
Militão e Carlota tiveram apenas um filho, Frederico Ribeiro de Sousa (Fredericão), homem de grande cabedal e de grande descendência em Dores do Indaiá. De se notar a coincidência de sobrenomes (esposa legítima – Carlota Maria de São José e a índia concubina – Maria Cândida de São José). Seria mesmo uma coincidência ou adoção do mesmo sobrenome pela concubina índia?
Não se sabe quando Candinha dos Porcos se mudou para Dores do Indaiá, nem se ela e Dolor já se conheciam antes. Consta que ela era casada com Antônio Pedro Fiúza, seu primo e descendente de Manuel Lino Fiúza de Almeida, outro dos fazendeiros fundadores de Dores do Indaiá. Não consta que o casal Antônio e Candinha tenha tido filhos, mas pode-se inferir, pelos acontecimentos subsequentes, que tiveram uma filha.
Por outro lado, Dolor e Candinha tiveram vários filhos. Todos se tornaram personalidades importantes na cidade, cidadãos de bem, trabalhadores, honestos e granjearam grande respeito da comunidade.
A história era por todos conhecida em Dores do Indaiá e pode-se imaginar o constrangimento provocado em ambas as famílias, notadamente na de Etelvina, criada com princípios rígidos. Mas, o amor é cego e a tudo enfrentou...
Entretanto, a história não parou por aí. Talvez, mais marcante ainda, foi outro relacionamento íntimo que Dolor teve com uma filha de Candinha (seria filha de seu esposo Antônio Pedro Fiúza?), de cuja união também resultou em um filho. Mãe e filha apaixonadas pelo mesmo homem e do qual ambas tiveram descendência. Uma inusitada história de amor, vivida no assim não tão ermo sertão do Campo Grande.




Matriz de N.S. Dores, vista da praça S. Sebastião, 
nos tempos de Vó Etelvina, 1928. Foto de autor desconhecido. 
A Matriz ainda tinha duas torres em sua parte traseira.
Estas foram demolidas em decorrência de goteiras (?!!!).


Recentemente, quando uma foto de Maria Cândida Ribeiro de São José, a Candinha dos Porcos, foi divulgada pela internet, mais exatamente no grupo da História de Dores do Indaiá, é que o assunto voltou a ser comentado, desta vez com mais naturalidade e até com muito respeito pela grande história de amor que na realidade foi. Quero ressaltar aqui, que o tema foi abordado inicialmente pelo criador desse importante grupo de troca de informações e preservação da memória de Dores do Indaiá, e que é um dos descendentes diretos de Candinha dos Porcos. Uma atitude admirável, louvável, e que merece todo o nosso respeito, já que a história não tem como ser modificada.


Praça da Matriz de S. Sebastião, em foto do início do século XX.
A casa de Etelvina ficava a uns cem metros à frente do grande fícus
à esquerda, plantado pelo dr. Zacarias, em 1905. Ele faleceu
quando regava a então pequena árvore no centro e ao final desta rua, em frente à
casa de Etelvina.Todas as casas da praça pertenciam a famílias amigas 
e aparentadas. 


Com isso, podemos imaginar pelo que passou Etelvina Maria dos Santos, em sua época. Recordando, ela se casou em 1878. Em 1880, nasceu Amador Pinto Ribeiro, seu primeiro filho. Foi agricultor e fazendeiro em Dores por toda sua vida. Sua esposa foi Floripes Ribeiro. Ainda não temos informações sobre seus descendentes.


Etelvina na escada que dava para o quintal de sua casa.
À direita, Amador Pinto Ribeiro, seu primeiro filho e
alguns dos seus. Acredito que a senhora da esquerda,
na primeira fila, seja Floripes.
Foto de autor desconhecido.


Em 1882, nasceu Maria Angélica Ribeiro Coelho, mais conhecida como Sá Maria do Cruz, sua segunda filha, casada com o conhecido e respeitado tabelião Francisco da Cruz Machado, natural de Abaeté. Foi ela uma figura muito querida e estimada em toda a cidade, vindo a falecer em Belo Horizonte, em 1968.



Etelvina e suas filhas, em 1935. Da esquerda para a direita:
Virgínia, Etelvina, Chiquinha e Maria do Cruz.
Foto de autor desconhecido.
Acervo de Ângela, Mônica e Heloísa Corrêa.



O primeiro genro: Francisco da Cruz Machado,
com o filho mais velho Zezé Machado. Década de 1930.
Foto do acervo de Letícia Machado.


Em 1883, nasceu Virgínia Angélica Fiúza (também anotada como Virgínia Pinto Fiúza), minha avó paterna, casada com Sebastião Corrêa de Souza, um dos descendentes de Manoel Corrêa de Souza, o Correinha, um dos fundadores de Dores do Indaiá e quem doou o terreno para a construção do núcleo inicial do arraial.




Virgínia Angélica Fiúza, terceira filha de Etelvina e descendência.
Aqui nas comemorações de suas Bodas de Ouro, em junho de 1951.
Uma foto-relíquia da qual temos muito orgulho em participar,
quando o autor mal tinha completado seu sétimo ano de vida.
Foto Filizzola.



O segundo genro: Sebastião Corrêa de Souza,
com Virgínia Angélica Fiúza e netas, filhas de Nevita.



Virgínia Angélica Fiúza.
                                                                               
Virgínia e seu irmão caçula João Ribeiro Corrêa. Ca. 1957.
Foto de autor desconhecido. Acervo de Antônio Fernando de Melo Fiúza.

Em 1885, nasceu Francisca Angélica Fiúza (Chiquinha), casada com Joviano de Oliveira, filho de Chico Italiano, natural de San Giovanni, localidade próxima a Nápoles, sul da Itália.


Francisca Angélica Fiúza. Foto do acervo de
Ângela, Mônica e Heloísa Corrêa, netas de Francisca.


Francisca Angélica Fiúza e Joviano de Oliveira, em suas
bodas de diamantes, em 1965, com diversos descendentes.
Foto de autor desconhecido.
Acervo de Ângela, Mônica e Heloísa Corrêa.



O terceiro genro: Joviano de Oliveira e Francisca Angélica Fiúza.
Acervo de Ângela, Mônica e Heloísa Corrêa.



      Em 1887, nasceu José Pinto Ribeiro (Juca), casado com Maria Rosa Soares Ribeiro, comerciante em Dores do Indaiá. Residia o casal à Rua São Paulo, próximo à casa de sua irmã, Virgínia, esta à Rua São Paulo, 300. Juca deixou grande descendência, com diversos e ilustres personagens.


José Pinto Ribeiro e Rosa Soares, esta descendente de
D. Joaquina do Pompéu.
Foto do acervo de Rosinha Soares Ribeiro.


José Pinto Ribeiro (Juca) (1887-1961).
Foto do acervo de Joanita Soares.


Filhos de Vó Etelvina. Da esquerda para a direita:
Francisca (Chiquinha), José (Juca), Maria (do Cruz),
João (da Vó ou João Grande) e Angélica Fiúza Botinha
(residente em Luz). Foto Indaiá (Zé do Foto).
Ca. 1955. Foto do acervo de Joanita Soares.


Descendentes de Vó Etelvina. Da esquerda para a direita:
Luiz Ribeiro Corrêa (neto), Virgínia (filha),
Anete (bisneta, filha de Carlito), Sebastião Corrêa (genro),
Carlos Corrêa de Souza (Carlito, neto) e José Pinto Ribeiro (Juca, filho).
No verso da foto está escrito: "Com a bênção do Padre Donizetti".
Foto de autor desconhecido. 26 de maio de 1955.
Foto do acervo de Joanita Soares.



Em 1896, nasceu Herculano Pinto Fiúza, casado com Carmelita Fiúza Costa, que se tornou um dos mais respeitados comerciantes da cidade, no ramo de armazém. Faleceu muito jovem, em 13 de setembro de 1945, em Belo Horizonte. Sua morte, precoce e repentina (sofreu um infarto do miocárdio, estando sozinho em um quarto de hotel de Belo Horizonte) surpreendeu e consternou toda a sociedade dorense, pois era um homem muito estimado por seu espírito empreendedor, sociável, amigo de todos e pessoa dada à caridade. Morreu apenas três anos após o passamento de sua amada mãe, Etelvina.



Herculano Pinto Fiúza, o moço, filho de Etelvina,
e sua esposa Carmelita Fiúza Costa. Foto do acervo
da família de Herculano e Carmelita

Descendência de Herculano Pinto Fiúza, o moço, após seu falecimento. 
Ca. 1949. Foto de autor desconhecido pertencente ao acervo da família 
de Herculano e Carmelita.


Armazém Progresso, de propriedade de Herculano Pinto Fiúza,
na década de 1940.  Situado ao lado de sua residência, na Praça
do Rosário, em Dores do Indaiá. S/d. Foto de autor desconhecido

pertencente ao acervo da família de Herculano e Carmelita.



Igreja do Rosário, nos tempos de Etelvina. Seu filho Herculano Pinto Fiúza 
residia defronte a mesma em belo casarão colonial. 
S/d. Foto de autor desconhecido. Do acervo de Maria das Dores 
Caetano Guimarães (D. Branca) e filhos.


Reproduzo agora, com a devida autorização de seu neto, Antônio Fernando de Melo Fiúza, que o divulgou pela internet, o bilhete escrito por Herculano Pinto Fiúza momentos antes de falecer em decorrência de ataque cardíaco em um quarto de hotel, em Belo Horizonte, como escrevemos acima. Nota-se a letra tremida, própria de alguém que está sofrendo muito (no caso uma dor aguda no tórax), totalmente diferente de outro bilhete escrito em 1922, este com uma letra impecável e bem desenhada. São momentos cruciais na vida de um grande cidadão que merecem ficar registrados na história de nossa família.




"Estou sofrendo uma dor horrivel,
se por acaso eu vier a falecer
telephone para o Hotel Continental
a João Ribeiro Coelho que
é meu mano para tomar as providencias"

Foto do acervo de Antônio Fernando de Melo Fiúza.

Este bilhete foi encontrado no quarto onde faleceu
Herculano Pinto Fiúza, destinado a seu irmão
João Ribeiro Coelho (João Grande), que o teve em sua
posse até sua morte. Os filhos de João o doaram para
Orlando Fiúza, filho de Herculano, segundo relato
de Paulo Ribeiro de Andrade. Atualmente pertence ao 

acervo de Antônio Fernando de Melo Fiúza, neto de 
Herculano.



Bilhete escrito por Herculano, em 1922, revelando
uma escrita refinada e o domínio do vernáculo.

Foto do acervo de Antônio Fernando de Melo Fiúza.

Verso do mesmo bilhete. Escrito na localidade de Chácara, próxima a Dores do Indaiá.
Acervo de Antônio Fernando de Melo Fiúza.


     Em 1898, nasceu Clara Angélica Fiúza, casada com Alexandre Lacerda, muito estimado comerciante dorense, fundador da Casa Lacerda. Clara também faleceu muito jovem, em decorrência de complicações cardiovasculares.


Filhos de Clara Angélica Fiúza e Alexandre Lacerda,
após o falecimento de Clara. S/d. Foto de autor desconhecido.


A tradicional Casa Lacerda, na praça São Sebastião.
Fundada pelo genro de Etelvina, Alexandre Lacerda,
sobreviveu por quase cem anos. S/d. Foto de 
autor desconhecido.
  

Outro genro: Alexandre Lacerda, esposo 
de Clara Angélica Fiúza.

Em 1899, nasceu Angélica Fiúza, casada com o estimado e prestigiado tabelião e radio-amadorista de Luz, Ramiro Botinha. Ele foi um homem que prestou grandes serviços à comunidade de toda a região, ao País e ao mundo, na medida em que, naquela época, as comunicações entre pessoas distantes eram feitas somente pelo radio-amador. Com isso, ajudou a socorrer feridos em acidentes rodoviários, fluviais e até marítimos, além de um sem-número de colaborações valiosas quando da transmissão de mensagens para os seus mais variados colegas do País, recebendo, em troca, a gratidão de seu povo. Foi um grande cidadão do qual todos nós, de sua família, nos orgulhamos muito.


Da esquerda para a direita: José Botinha (Zezé), primogênito
de Ramiro e Angélica, pessoa não identificada,
Angélica Fiúza (Botinha), Ramiro Botinha e o provável
motorista que os levou a uma excursão.
Foto de autor desconhecido. S/d (provável início da década de 1950).
Acervo de Ângela, Mônica e Heloísa Corrêa.



Em 1903, nasceu João Ribeiro Coelho (João da Vó, ou João Grande), também muito estimado e querido comerciante e funcionário público em Dores do Indaiá. Nasceu ele na Fazenda Cocais, no ano seguinte, mas no mesmo local que seus sobrinhos, o grande fazendeiro Luiz Ribeiro Corrêa (filho de Virgínia Angélica Fiúza) e o afamado escritor dorense José Machado (Zezé Machado).

Como me relatou Paulo Ribeiro de Andrade, filho de João da Vó: “Meu Pai, nasceu nesse lugar. Filho mais novo de Vó Etelvina, teve o privilégio de ter como sobrinhos mais velhos que ele, José Ribeiro Machado e Luiz Corrêa. Os três foram contemporâneos e companheiros de infância nesse lugar maravilhoso de onde contavam lindas histórias...


João Ribeiro Coelho, filho caçula de Etelvina, sua esposa
Maria Teixeira de Andrade, seus filhos e neta.
S/d. Foto de autor desconhecido. Acervo de Paulo Ribeiro de Andrade.


João Ribeiro Coelho e sua esposa Maria Teixeira de Andrade,
nora de Etelvina. S/d. Foto de autor desconhecido.
Acervo de Ângela, Mônica e Heloísa Corrêa.

Casas da praça S. Sebastião, vizinhas à de Etelvina.
Uma delas acaba de ser demolida (2014), em mais
um atentado contra o patrimônio histórico da cidade.
S/d. Foto de autor desconhecido.


Etelvina criou seus filhos nos modelos descritos acima por Carlos Cunha Corrêa. Todos eles se tornaram chefes de grandes famílias e com enorme descendência, incluindo pessoas de relevo na vida profissional e social do País.



Matriz de S. Sebastião em foto rara, provavelmente da década de 1880
de autoria desconhecida.
Tirada da parte de trás, onde se vê a grande sacristia, que
se localizava bem em frente à casa de Etelvina. 
Foto do acervo de D. Maria das Dores Caetano Guimarães
(D. Branca) e filhos.




A mesma foto anterior, restaurada pelo expert Osvaldo Rocha.
É como se o tempo voltasse e, como que por milagre, quase podemos sentir
os odores das plantas, a suave brisa, os sons dos pássaros e até a voz

distante de algum dos moradores.
As duas casas mais antigas de Dores (de Juca de Sousa Coelho 
e seu filho Francisco de Sousa Coelho) podem ser vistas à direita.
Magnífica foto!


Etelvina era muito ligada a todos os seus filhos, netos e bisnetos. Foi muito estimada pelos seus amigos, vizinhos, funcionários e todos com quem convivesse. Sabia cativar a todos com sua firmeza, honestidade, correção de conduta e amabilidade. Dona de uma fibra invulgar, ficou viúva em plena maturidade, em 1907, e sempre se manteve à frente de seus negócios na fazenda, com cuja renda pode criar toda sua numerosa família. Tornou-se uma referência na história de Dores do Indaiá e todos os historiadores e cronistas da cidade, como Carlos Cunha Corrêa, prof. Waldemar de Almeida Barbosa e prof. Rubens Fiúza, se referem a ela como uma personalidade marcante na história da cidade.


Etelvina Maria dos Santos e algumas de suas netas, em 1935
Da esquerda para a direita: Olívia Fiúza, Marieta Fiúza,
Etelvina Fiúza de Morais, Lilita Botinha e Dayse Gouthier, 
amiga da família. Foto de autor desconhecido.
Acervo de Ângela, Mônica e Heloísa Corrêa.


No verso de uma das fotos de Vó Etelvina, reproduzida logo abaixo,
encontramos esta dedicatória para seu filho primogênito Amador
e para sua nora Floripes.
Ela assina Etelvina Maria dos Santos, numa demonstração
inequívoca de seu nome real. Foto do acervo de Joanita Soares.



A bucólica Dores do Indaiá, vista do alto da Matriz de N.S. das Dores.
À direita, vê-se a praça da outrora Matriz de São Sebastião,
que ainda se encontrava no local. Portanto, é foto de antes de 1937,
quando foi demolida. Esta é a cidade em que viveu Etelvina em seus últimos anos.
Há quem julgue Dores uma cidade triste, como a confirmar Claude Lévi-Strauss
em seu clássico Tristes Trópicos. Com certeza, para Etelvina, não o era.
Foto de autor desconhecido.


Etelvina enviuvou-se em 1907 e viveu sempre para sua família. Dedicou o que tinha de melhor de si para sua prole. Faleceu em 16 de setembro de 1942, em sua casa. Consta, segundo alguns relatos, que, pouco antes da saída do ataúde onde repousava seu corpo, para sua última morada no cemitério de Dores, uma pessoa teria colocado um ramo de cravo vermelho por entre seus dedos. Um pequeno gesto, mas de uma grandeza e de uma beleza tais, que não pode ser descrito em palavras. Um antigo apaixonado que veio lhe prestar sua última homenagem. Entretanto, meu ilustre primo Paulo Ribeiro de Andrade recentemente informou-me que tal relato não é verídico. O suposto personagem já havia falecido há nove anos (1933). Verdade ou não, nada surge por acaso, como que por encanto das mentes criativas das pessoas. Algum significado nos traz para que tal estória tenha sido criada. O romantismo cria asas na imaginação das pessoas. Certamente, é uma pista para que os mais jovens pesquisem e desfaçam os nós trançados deste novelo de uma longa, bela e frutífera existência.




Dores do Indaiá nos tempos de Vó Etelvina. Foto colhida da Escola Normal,
esta, por sua vez, fundada em 1928. Ao  fundo, vê-se 
a Matriz de N.S. das Dores 
com a duas torres na sua parte de trás. Mais ao fundo, no Morro da Capelinha,
 observa-se a capela que deu o nome a esta elevação. Vê-se a profusão da mata 
nativa (cerrado) então existente. S/d. Autor desconhecido. Do acervo de Maria
das Dores Caetano Guimarães (D. Branca).


Escola Normal Francisco Campos e suas estudantes nos tempos de Vó Etelvina, 1936. Foto de autor desconhecido. Em primeiro plano, à esquerda, minha mãe, Maria de Oliveira, então
normalista no penúltimo ano de escola. Do acervo de José Antônio Guimarães de Faria.



Etelvina, em foto de 1935.


Uma de nossas fontes de informação sobre Vó Etelvina, tem sido Paulo Ribeiro de Andrade, filho do tio João Ribeiro Coelho (João Grande). Homem culto, que sabe preservar os valores históricos, arquitetônicos e morais da cidade onde sempre viveu e vive, respeitado pelos seus concidadãos de todas as idades, uma referência para os mais jovens que hoje acompanham o passado da cidade na já referida página do Facebook intitulada História de Dores do Indaiá. Paulo era ainda criança quando faleceu Etelvina Maria dos Santos, aos 83 anos. Foi uma perda muito sentida por todos que a conheceram.


Igreja Matriz de N.S. das Dores, vista da parte de trás, com
suas duas torres. S/d. Foto de autor desconhecido.

Foto do acervo de Maria das Dores Caetano Guimarães (D. Branca).


Assim descreveu Paulo Ribeiro de Andrade os últimos momentos da matriarca:
Contam que Vó Etelvina estava moribunda quando chegou o tio Herculano e pegou na sua mão perguntando: "Mãe a Senhora está me conhecendo?". Ao que ela respondeu: "Quem não conhece o que é seu?!...". Naquele tempo, quando morria uma pessoa na família, era uso todos os parentes mais próximos se vestirem de preto em sinal de luto e ela pediu que o único sinal de luto que ela queria era que colocassem uma faixa preta sobre o portal de entrada da casa. Isto foi feito e muito tempo depois, quando passávamos por lá, via-se ali aquela tarja preta já desbotada pelo tempo.

Coisas assim não se vê faz tempo. Parece uma estória de outro mundo, mas ocorreu há somente 70 anos. Velhos tempos... bons tempos... que não voltam mais!
Como última recordação de Vó Etelvina, transcrevemos, aqui, aquela que foi a maior homenagem a ela prestada. Esta crônica de Zezé Machado, o grande escritor, contista e poeta dorense, neto da matriarca.


CRÔNICA DE JOSÉ RIBEIRO MACHADO
Notas Sociais


Quarenta anos depois...


Quando o automóvel dobrou o morro, cerrei os olhos para não ver. Mas vi. Lá estava o sítio da fazenda, da outra banda do córrego. À distância, era a mesma casa, assobradada, olhando os mesmos horizontes. Então, um trailer cinematográfico, localizado na irrealidade, rápido, desconcertante, impossível, desenrolou-se-me nas retinas: o renque de jabuticabeiras, que avançava da porta da cozinha ao rêgo d’água... subíamos ao primeiro pé, e marinhando pelas galhadas, que se entrecruzavam, saíamos lá de baixo, defronte ao rêgo... E aquela chuva de pedras? As mulheres, ajoelhadas, cantavam o Bendito, velas bentas acesas, palmas bentas queimando... Depois, um mundo de aves mortas pela saraivada, as paredes da casa estigmatizadas pela varíola dos granizos... E este, quem é este? – Ah, é o Alonso – medonho num garfo, aquele, o Chico Pedra, camarada de confiança, dentes de ácume. A Rosa, que me servia de pagem, entre cavaleiros, rumo à igreja, para se casar com o Marcos, e eu chorando saudades antecipadas...
A Vó Telvina, mulher resolvida, matando a tiro de espingarda, nas grimpas do arvoredo, a cobra magnetizando passarinhos... Meu avô, Chico Ribeiro, muito apagado na lembrança... O desconhecido, que passou pela Fazenda, vendendo filhotes de papagaios... O Martinho Goiano, de voz rouca, cantando modas à viola... e mais, mais... Que dolorosa história em quadrinhos! Tudo, tudo longe, irremediavelmente longe. Obscurecido pelo tempo. Desvirtuado pela distância. Morto, morto!

***
O automóvel vingou o morro. Desceu. – É aqui! O córrego canta. Canta ou chora? Desenrolamos os anzóis. Pescar? Para que pescar? Como pescar? Mas fui companheiro. Joguei o anzol n’água. Meu espírito, entretanto, afastava-se de mim. Da distância, uma voz cariciosa vinha vindo: - Pisa de leve que este chão é sagrado... O Corguinho é este mesmo. Até o nome: Cocais. Mas as águas já não são as mesmas... Correram, correram tanto...
Tudo mudado. Árvores que deixei meninas, não mais. Coqueiros que embalavam ninhos, não mais. Seriemas gargalhando manhãs de orvalho, não mais. Apenas meus mortos estão comigo. Evoco-os, um por um, e todos respondem: Presente!

***
Foi indo, não resisti mais. Abandonei o anzol. Desvencilhei-me da capanga. Sujiguei o coração, que me pedia para não ir e teimei: Vou e vou! Quero ver a Fazenda. Apalpá-la. Senti-la. Pisar àquele assoalho. Abrigar-me àquelas telhas. Fui. Cheguei ressabiado. Um cão ladrou. Nem fiz caso. Entro no curral. Curral de réguas. – Para onde foste, cerca de aroeira do meu avô? Atravesso o curral! Eis a casa. Esquadrias azuis, descoradas, resguardando janelas que foram verdes. Verdes? O coração treme. As pernas tremem. Eis a casa. Para frente! Coragem, coração! Que é isto? Medo? Arrependimento? Uns passos a mais, pronto. Cheguei. Olho em torno, ninguém. Grito, numa voz que não é minha: - Ô de casa? Ninguém. O fazendeiro, com certeza, foi à cidade, aproveitar o domingo. Foi mesmo, porque a um novo apelo, quem me aparece é um preto, meia idade, beiço rachado, dentes à mostra. Recebe-me desconfiado. Vexamento? Nem me convida para entrar, mas entro assim mesmo, e conto-lhe uma história triste, comovente, e...
Era esta a sala... Resisti quem há-de?
Uma ilusão gemia em cada canto,
Chorava em cada canto uma saudade!

***
Agora é o quintal. Piso terras em que brinquei menino. E de tudo que lá deixei, de tudo, tudo, tudo, - quarenta anos depois – só encontro, só reconheço três pés de jabuticabeiras, caducos, velhinhos, desengonçados, infelizes... Lembranças que o tempo esqueceu de apagar. Testemunhas desmemoriadas, mudas, dolorosamente mudas, do paraíso de uma infância morta. Tudo, tudo mais em redor, salvo a casa envelhecida, quase irreconhecível, acabou-se. O rego d’água agoniza. O monjolo silenciou-se. Não há mais ninhos de guaxos nos coqueiros. Cadê o pintassilgo do pé de espirradeira, que floria defronte à janela? Invés dos meus um negro do beiço rachado me escuta, humilde, sem compreender o mundo de sentimento que se extravasa de cada reminiscência, a lágrima que não choro de vergonha, o beijo que não deixo nos troncos das jabuticabeiras e no chão em que piso, de vergonha. Tudo morreu. Só a saudade persiste, irreverente, indelinivel, aniquilante, avassaladora...
***
- Uai. Mané Surdo, que lamúria é esta? – perguntará o leitor, que me aguentou até aqui. Respondo: - Bem sei que este canto de jornal não é muro de lamentações... Mas você, amigo, há-de perdoar-me esta derrapagem sentimental, porque estou falando da Fazenda Cocais, onde nasci e vivi menino, e, um domingo destes, depois de 40 anos de ausência, cometi a imprudência lá voltar, e veja o aconteceu.

Mané Surdo.

Jornal “O Liberal”
Dores do Indaiá – 28 – agosto – 1955

José Ribeiro Machado
19-04-1901

Nota: a bibliografia consultada para elaborar este texto encontra-se no blog http://familiasefaradidi.blogspot.com.br


No link abaixo, pode ser encontrado para download o livro Serra da Saudade, de Carlos Cunha Corrêa, que traz importantes informações sobre a história de Dores do Indaiá e do Alto São Francisco.

https://docs.google.com/file/d/0B9zBbq3OaOaNWTZ6MXhwSGEwZ0E/edit?pli=1
 
Quem se interessar por depoimentos acerca dos judeus em Portugal pode acessar este link. Contem importantes explicações da Profa. Anita Novinski, da USP, uma das maiores autoridades brasileiras sobre este tema:

http://www.youtube.com/watch?v=OH7owOaDDCA

Outro link com depoimentos de grandes especialistas:

http://www.youtube.com/watch?v=OwY_vRdobwc

A genética do povo português revelando parte de ascendência judaica:

http://www.youtube.com/watch?v=skYbYpgEV9g